segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Inconfidência Sulina

Inconfidência Sulina

05 de agosto de 2008

Por Carlos Zatti *

Aqui na capital do Paraná, o governador não se mostrou menos enérgico do que o Ministro da Justiça em Brasília, Maurício Correia.
Mesmo antes do Poder Judiciário se pronunciar, estes dois brasileiros se sentiram no dever de condenar quem apenas usou o direito da manifestação do pensamento, como está consagrado nas Cartas Magnas de todos os países civilizados e democráticos do mundo.

Não satisfeitos com as diligências do Ministério Público e da Polícia Federal, quando Silvério dos Reis, aliás, jornalista Roberto Marinho da Globo — Maurício Correia — o mais acabado tipo tirano, que vem dirigir toda a ação da alta tropa do Executivo brasiliano, na formação da culpa, que mais tarde seria reconhecida como a mais patriótica ação, tanto pelos prós como pelos contra, para a libertação de Minas Gerais (ou do Brasil, segundo alguns), que — entreveramos o Sul ¬— como se uma Ordem Terceira da Penitência segredasse-nos.

Nomeou-se para defender culpados, em documento mui curioso, que seria resumir a culpa na devassa em curso. Mas tudo seria inútil, já que a justiça real estava bem orientada e foram presos os envolvidos na Inconfidência Mineira: o réu Tiradentes deveria ser decapitado e esquartejado, e os demais presos e degredados; para estes, dizia o acórdão da Carta Régia, que quem voltasse ao Brasil sofreria irremediavelmente a pena de morte.

Eram mineiros e cariocas que subiam e desciam as ruas de suas cidades, apressados de preocupações, pelo destino de homens que queriam apenas “Libertas quae sera tamen” ao seu torrão, como se diz hoje em dia: O Sul é o meu País.

Os executores eram sinistros como os executivos, sejam de Brasília, sejam de Curitiba, ou de POA. Cerrando a torva catadura, fez tremer a pobre alma da terra, vencida e apavorada.

Mas ali estavam a altivez e a perfídia postas em tormento; e via-se bem o fim que podiam ter os loucos desejos de uma sonhada liberdade.

E entre o povo, havia a sentença produzido o efeito desejado pela torpe elite governamental. Lá foi o sangue. Aqui foi o medo do justiceiro.

Lá foi a condenação. Aqui a absolvição.

Lá caiu a cabeça de Tiradentes. Aqui caiu a cara dos anti-sulistas.

Dizem que lá a Justiça fez seu papel. Aqui a Justiça fez seu papel.

A execução do réu, considerado o chefe do levante libertário, foi exemplar. A compaixão, de que só estão isentos os que não são humanos, fazia, por outra parte, os seus efeitos. Ainda que ela não confunda o inocente com o réu, nasce da semelhança, que tem entre si todos os homens, e faz padecer com os que padecem. Tudo como um terror universal...

Todo dia 21 de Abril o Exército brasileiro perfila diante da memorável data, assistido pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em justa reverência aos heróis da Liberdade, da Igualdade e da Humanidade.

Ordem e progresso, porque o Sul é o meu País!

A conjura separatista de Vila-Velha sofreu o peso da canalha, na prática infame dos poderes anti-democráticos, com sua sinistra tirania, com seu escarmento de comédia. E, qualquer que for o caso, seja mineiro ou sulista, se pode dizer que sempre vence a danação?

Ó! - Requião—Colares—Amin o vice-reino sulino... Seriam déspotas de uma Maria Louca da corte?! — Mas houveram outros, como Paulus Pimenteira, Cabeça Chata, Betinho do Mar, Canibal Kuri, Chico Beleza e Borguetinho, contrariando os princípios de Tiradentes, Francisco de Andrade, José Maciel, Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto, Tomaz A. Gonzaga, e outros condenados. — Antes de Felipe dos Santos ser enforcado, e depois de José Martins ser fuzilado. — Ó pátria livre — Sul-livre...

Não. O Poder Judiciário é justo e faz justiça. Os outros poderes, com suas derramas é que não querem perder o “status quo” que o erário lhes dá.

É a cavilação do posto: Brasília está para o Sul como Lisboa estava para o Brasil.

Alguém discorda?
(*) CARLOS ZATTI é escritor e historiador gaúcho, membro do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico do Paraná), autor de diversas obras como "Sul" e "O Paraná e o Paranismo", é também Secretário-Geral do Movimento O Sul é o Meu País.

Sem comentários:

Enviar um comentário