quinta-feira, 22 de abril de 2010

Bento Gonçalves

Bento Gonçalves da Silva (Triunfo, 23 de Setembro de 1788 — Pedras Brancas, 18 de Julho de 1847) foi um militar farroupilha, um dos líderes da Guerra De 35, que buscava a independência da província do Rio Grande do Sul do Império do Brasil.

Filho do alféres português Joaquim Gonçalves da Silva e de Perpétua da Costa Meirelles, filha de Jerônimo de Ornellas Menezes e Vasconcellos, rico fazendeiro riograndense, nasceu na Fazenda da Piedade, pertencente à família de sua mãe. Seus pais desejavam encaminhar o filho para a carreira eclesiástica, porém a Bento interessava mais as lides campeiras. A família mudou de idéia depois de Bento ter matado um homem negro em um duelo, o que levou seu pai a forçar Bento a assentar praça, porém a interferência de seu irmão João Gonçalves adiou o enlistamento por cinco anos.

Incorporado na Companhia de Ordenanças de D. Diogo de Sousa, Bento cedo demonstrou sua vocação, ao engajar-se nas guerrilhas da primeira campanha cisplatina (1811-1812). Ao final da guerra, desincorporado como cabo, estabelece uma fazenda de criação de gado e uma casa de negócios em Cerro Largo, território uruguaio, lá conhece sua futura esposa Caetana Joana Francisca Garcia, com quem se casa em 1814 e tem oito filhos: Perpétua Justa, Joaquim, Bento, Caetano, Leão, Marco Antônio, Maria Angélica e Ana Joaquina.

Na segunda campanha cisplatina (1816-1821), seu prestígio como militar se confirmou. Em 1817 foi nomeado capitão, participou das batalhas em Curales, Las Cañas (1818), Cordovez, Carumbé (1819) e Arroio Olimar (1820). Em 1824 foi promovido a tenente-coronel.

Na Guerra da Cisplatina ou Guerra del Brasil contra as Províncias Unidas do Rio da Prata, foi comandante de cavalaria na batalha de Sarandi, em 12 de outubro de 1825, logo depois foi promovido a coronel de 1a linha. Participou também da Batalha do Ituizangó, também chamada de batalha do Passo do Rosário (20 de Fevereiro de 1827), cobrindo a retirada das tropas brasileiras.

Em 1829, pelos serviços prestados na campanha de 1825-1828 e que terminou com a independência do Uruguai, D. Pedro I nomeou Bento Gonçalves coronel de estado-maior, confiando-lhe o comando do 4° Regimento de Cavalaria de Linha e, no ano seguinte da fronteira meridional. Em 1830 recebeu o diploma da maçonaria.

Em 1834, denunciado como rebelde e acusado de manter entendimentos secretos com Juan Antonio Lavalleja para a separação do Rio Grande do Sul, foi chamado à Corte. Defendeu-se perante o ministro da Guerra, foi absolvido e teve recepção triunfal no regresso à província. Os conservadores, no entanto, conseguiram a destituição de Bento Gonçalves do comando militar da Província do Rio Grande.

Foi eleito deputado provincial em 1835 na 1ª legislatura. Em 20 de abril de 1835, em plena sessão de instalação da assembléia provincial, é acusado pelo presidente da província, Antônio Rodrigues Fernandes Braga, de articular a separação do Rio Grande do Sul do restante do Império.

A Revolução Farroupilha iniciou-se em 20 de Setembro de 1835. No dia 25 daquele mês, o chefe militar declarou respeitar o juramento que havia prestado ao código sagrado, ao trono constitucional e à conservação da integridade do império. Em princípio, portanto, o levante não era de caráter separatista mas se dirigia contra o presidente da Província e Comandante das Armas. Mesmo assim, o Império não poderia aceitar a destituição de seus delegados - fosse por golpe ou não. Iniciava-se a luta que se estenderia por dez anos.

Na sua ausência, após retumbante vitória na Batalha do Seival, a República Riograndense foi proclamada pelo general Antônio de Sousa Netto em 11 de setembro de 1836.

Bento Gonçalves foi preso na Batalha do Fanfa (3 e 4 de outubro de 1836). Foi mandado para a Corte e depois encarcerado na prisão de Santa Cruz e mais tarde para o Forte da Laje, no Rio de Janeiro. Em 15 de março de 1837 em uma tentativa de fuga da prisão, Pedro Boticário não conseguiu passar por uma janela, por ser muito gordo. Em solidariedade Bento Gonçalves também desistiu da fuga, na qual escaparam Onofre Pires e o Coronel Corte Real. Depois desta tentativa de fuga foi transferido para a Bahia onde ficou preso no Forte do Mar. Mesmo preso, foi aclamado presidente em 6 de Novembro de 1836. Conseguiu, com auxílio da Maçonaria, evadir-se de modo espetacular da prisão baiana em 10 de Setembro de 1837, poucos dias antes do início da Sabinada. De volta ao Rio Grande, aceitou o cargo e continuou a luta.

A 29 de Agosto de 1838 lança seu mais importante manifesto aos rio-grandenses onde justifica as irreversíveis decisões tomadas em favor da libertação do seu povo:

“ Toma na extensa escala dos estados soberanos o lugar que lhe compete pela suficiência de seus recursos, civilização e naturais riquezas que lhe asseguram o exercício pleno e inteiro de sua independência, eminente soberania e domínio, sem sujeição ou sacrifício da mais pequena parte desta mesma independência ou soberania a outra nação, governo ou potência estranha qualquer.Faz neste momento o que fizeram tantos outros povos por iguais motivos, em circunstâncias idênticas. ”

E no trecho final, um juramento importante:

“ Bem penetrados da justiça de sua santa causa, confiando primeiro que tudo, no favor do juiz supremo das nações, eles têm jurado por esse mesmo supremo juiz, por sua honra, por tudo que lhes é mais caro, não aceitar do governo do Brasil uma paz ignominiosa que possa desmentir a sua soberania e independência. ”

Estas palavras têm reflexo mais tarde, quando da assinatura do Tratado de Poncho Verde.

Intrigas internas, num grupo desgastado pela longa guerra, em 1844, induzem Onofre Pires a destratar Bento Gonçalves, chamando-o de assassino (pelo assassinato de Paulino da Fontoura) e ladrão (das aspirações do povo, referindo-se ao teor da Constituição). Bento então convoca Onofre para um duelo, que se realiza em 27 de fevereiro de 1844. Onofre, atingido no duelo, dias depois viria a falecer por complicações advindas do ferimento.

A República Rio-Grandense teve seu "fim" na Paz de Poncho Verde, em 1º de março de 1845. Luís Alves de Lima e Silva - o Conde de Caxias -, general vitorioso, assumiu a presidência da Província. D. Pedro II, por sua vez, em sua primeira viagem como imperador pelas províncias do Império, foi ao Rio Grande em dezembro de 1845. Ao jovem monarca de vinte anos de idade, apresentou-se Bento Gonçalves, com seu uniforme de coronel e revestido de todas as medalhas com que havia sido condecorado por D. Pedro I, pela atuação nas campanhas militares do Primeiro Reinado.

Após o fim da guerra, Bento Gonçalves retornou para as atividades do campo sem interessar-se mais por política, Morreu dois anos depois, acometido de pleurisia, deixando viúva Caetana Garcia e oito filhos. Seus restos mortais que inicialmente estavam no Cemitério do Cordeiro (Vila Cordeiro, Cristal), encontram-se sob monumento na praça Tamandaré situada no município de Rio Grande.

Bento Gonçalves já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Antônio Augusto Fagundes na minissérie "O Tempo e o Vento" (1985) e Werner Schünemann na minissérie "A Casa das Sete Mulheres" (2003), o mesmo interpretou também outro general Farroupilha, General Netto no longa "Netto Perde Sua Alma" (2001).

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