quarta-feira, 28 de abril de 2010

Colonização alemã no Rio Grande

A colonização alemã no Rio Grande do Sul foi motivada pela necessidade de povoar a região. O governo, convencido dos benefícios da imigração, enviou em 1822 à Europa o major Georg Anton von Schäffer para de recrutar interessados em emigrarem. Para convencer os interessados, o governo acenou com uma série de vantagens:

Passagem à custa do governo;
Concessão gratuita de um lote de terra de 78 hectares;
Subsidio diário de um franco ou 160 réis a cada colono no primeiro ano e metade no segundo;
Certa quantidade de bois, vacas, cavalos, porcos e galinhas, na proporção do número de pessoas de cada família;

Em 18 de julho de 1824 chegou a Porto Alegre a primeira leva de 39 imigrantes alemães, depois de passarem pelo Rio de Janeiro, onde eram recebidos e distribuídos pelo Monsenhor Miranda. Foram então enviados para a desativada Real Feitoria do Linho Cânhamo, localizada à margem esquerda do Rio dos Sinos, onde chegaram em 25 de Julho de 1824.

A seguir foram chegando outras levas e foi tentada a criação das colônias de Três Forquilhas e São Pedro de Alcântara das Torres, com pouco sucesso.

Os primeiros colonos vieram de Holstein, Hamburgo, Mecklemburgo e Hanôver. Depois, passaram a predominar os oriundos de Hunsrück e do Palatinado. Além desses, vieram da Pomerânia, Westphalen e de Württemberg.

Entre 1824 e 1830 entraram no Rio Grande do Sul 5350 alemães. Por problemas políticos e depois por causa da Revolução Farroupilha a imigração ficou interrompida entre 1830 e 1844. Reiniciada a imigração, entre 1844 e 1850 chegaram mais dez mil imigrantes, e entre 1860 e 1889 outros dez mil. Entre 1890 e 1914 chegaram mais 17 mil alemães.

Os alemães inicialmente ocuparam o vale do Rio do Sinos, durante a Revolução Farroupilha alguns se deslocaram para Santa Maria, buscando se afastar dos combates. Depois de terminada a Revolução, os colonos se espalharam fundando colônias nos vales dos rios Taquari, Pardo e Pardinho, fundando Santa Cruz do Sul, a Colônia Santo Ângelo e a Colônia de Santa Maria do Mundo Novo. Às margens da Lagoa dos Patos fundaram São Lourenço do Sul.

Com a Proclamação da República, as terras devolutas passaram para os estados, assim como a responsabilidade pela colonização. No Rio Grande, o governo positivista defendeu a imigração espontânea e a colonização particular. Rapidamente, o planalto gaúcho foi transformada em zona colonial, com a instalação das colônias novas de iniciativa pública e privada, atraídas pelas possibilidades de exploração do comércio de terras e pela obtenção de lucros fáceis.

A fronteira da colonização, no início do século XX chegou ao noroeste do estado, criando Ijuí, Santa Rosa, entre outras, para logo depois atravessar o Rio Uruguai e migrar para o oeste de Santa Catarina e Paraná, além de colônias no norte da Argentina e no Paraguai.

Passada a Segunda Guerra Mundial a quantidade de imigrantes diminuiu muito, até se extinguir. A última colônia formada foi de um grupo de famílias menonitas que tendo emigrado para Santa Catarina na década de 1930, migraram para o Rio Grande do Sul, fixando-se ao sul de Bagé entre 1949 e 1951.

Para atender as necessidades de leitura e educação dos colonos logo foi criada uma imprensa local. A primeira obra que se tem notícia foi a cartilha, para estudantes, Neuestes ABC Buchstabier und Lesebuch, impressa em 1832 na gráfica de Claude Dubreuil em Porto Alegre.

Em 1836 surgiu O Colono Alemão publicado por Hermann von Salisch, fazendo propaganda da causa farroupilha aos colonos alemães, apesar dos planos de ser bilingue, foi publicado somente em português, provavelmente por falta de uma gráfica com tipos góticos.

O primeiro jornal em língua alemã foi Der Kolonist, que surgiu em Porto Alegre, em 1852. No final do século XIX a imprensa alemã já estava bem desenvolvida, com vários jornais, que se digladiavam entre si e competiam pelos leitores, como o Deutsche Zeitung, Deutsches Volksblatt e Deutsche Post.

Apesar das mais distintas origens e dialetos variados, prevaleceu o dialeto chamado de Hunsrückisch Platt ou formalmente Riograndenser Hunsrückisch, um falar germânico baseado primariamente no dialeto Hunsrückisch originado de seu berço europeu, a região do Hunsrück (que poderia ser traduzido como Hunsrique, em português), no estado de Rheinland-Pfalz (traduzido, entre outras formas, como Palatinado-Renâno, em português). Dialetos de regiões vizinhas ao Hunsrique, como a Baviera e a Suábia também influenciaram o alemão comum gaúcho-catarinense.

É importante frisar que ao se discutir os aspectos históricos da colonização alemã no Rio Grande do Sul não é necessário deduzir-se automaticamente que a língua alemã desapareceu do estado com o passar das décadas, seu início oficial tendo sido o ano de 1824. Especialmente após o período decretado como o Nacionalismo por Getúlio Vargas que proibia o uso de idiomas minoritários, mesmo em ambiente familiar. Conseqüentemente, sofreram os/as falantes de dialetos do alemão, inclusive a língua minoritária iídiche, uma língua indo-européia essencialmente germânica e pertencente ao grupo lingüístico Alto-Alemão, falada principal- e tradicionalmente, por judeus da Europa central e da Europa Oriental, mas também por aqui, inclusive em Porto Alegre, na capital do Rio Grande do Sul. Outros idiomas que foram muito perseguidos durante a era da nacionalização foram o italiano e o japonês. Tudo isso ocorreu sempre sob ameaças, coerções, encarceramentos e mesmo torturas.

Uma outra forma específica do idioma alemão que tem um histórico relacionado ao Rio Grande do Sul e a outras partes do país é o chamado Pomerano, em português. Esta língua, que também é chamada de Pommersch, Pommeranisch é uma língua natural das regiões nórdicas e geograficamente baixas da Alemanha e porções de países vizinhos. Daí o nome Baixo-Alemão ou Baixo-Saxão, Plattdeutsch em alemão ou mesmo Plattdüütsch, um termo formal que engloba as várias formas desse idioma nórdico. Na América Lusófona o idioma pomerano veio a fazer parte das mais diversas comunidades regionais como Pencas, localizada no estado do Espírito Santo), do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande.

É importante notar que o termo Pomerano também é atribuído ao idioma indo-europeu eslavo-ocidental, falado no norte da polônia, chamado de também de língua Cassúbia, Cachubo ou cassúbio. O Cassúbio pertence ao ramo Lequítico ocidental, juntamente com o idioma polaco, a língua nacional da Polônia, e o Polábio, uma língua que caiu em extinção em 1750 quando da morte de seu último falante autóctone. A maioria dos falantes de variedades de línguas eslavas ocidentais acabou adotando alguma forma do dialeto Baixo-Saxão ou Baixo-Alemão, também conhecido como Plattdeutsch em alemão padrão ou plattdüütsch, nesta língua, quando ocorreu o período de germanização da região. Portanto, existe todo um aspecto político envolvido neste assunto. Após a retomada dessas regiões nórdicas pela Polônia, o Cassúbio foi considerado, por longa data, um dos pais 'singulares e diferentes' dialetos da língua polonesa. No entanto, nos últimos anos, notavelmente após o colapso do Comunismo na Polônia, o governo vem implantando políticas lingüísticas mais positivas do ponto de vista dos/as defensores/as desta língua e de falares minoritários. A Polônia, portanto, está atualmente atuando em acordo com a nova onda de valorização a diversidade e variações lingüísticas no continente europeu.

Vários dialetos germânicos fazem parte do cotidiano das mais variadas comunidades espalhadas por todo o estado do Rio Grande em maior ou menor grau de uso. Além dos falares teutos, outras línguas minoritárias fazem parte da vida cultural viva do estado, entre elas o Talian, um dialeto com fortes laços ao Vêneto da Itália, o polonês e, entre outros, o Castelhano, comumente praticado nas regiões fronteiriças ao país com o Uruguai e a Argentina.

Algumas obras literárias procuraram retratar a imigração alemã no Rio Grande do Sul, tais como A ferro e fogo, de Josué Guimarães; Videiras de Cristal, de Luiz Antônio de Assis Brasil.

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