terça-feira, 8 de junho de 2010

La mano del morto

La mano del morto

Tex 593 – “La mano del morto“, de Março de 2010, Tex 594 – “Quel treno a mezzogiorno“, de Maio de 2010 e Tex 595 – “Deadwood“, de Junho de 2010. Argumento de Mauro Boselli, desenhos de Alfonso Font e capas de Claudio Villa. História inédita em língua portuguesa.


James Butler Hickok, mais conhecido por Wild Bill Hickok foi uma das lendas do velho oeste americano. Lutou no exército da União durante a Guerra Civil e, depois desta, ganhou fama como jogador profissional e fora da lei. Envolveu-se em vários duelos épicos, rapidamente explorados pela imprensa sensacionalista da época, acabando por morrer durante um jogo de póquer num saloon em Deadwood, no Dakota.

Reza a lenda que, não encontrando vago o seu lugar habitual, Hickok acabou por sentar-se de costas para a porta, sendo baleado por Jack McCall. Na altura, dispunha de um par de ases, um par de oitos e uma dama, conjunto de cartas este que ficou para sempre conhecido como a “Mão do Morto”. E é desta forma que Boselli inicia esta aventura, certamente uma das melhores de sempre da série.

Não se trata de retratar a vida preenchida desta personagem símbolo da história do oeste, nem tão pouco colocar Tex novamente ao lado de figuras históricas. Boselli vai mais além, aproveitando a História para subir ao patamar da intriga política.

Tudo começa em Deadwood, em Agosto de 1876. Um homem entra num saloon e é convidado para se juntar a um jogo de póquer. Os factos seguintes fazem parte da História, mas o argumento de Boselli é suficientemente rico e de tal modo bem elaborado que em breve nos vemos em presença de um magistral complot político.

Uma história de delitos aparentemente sem ligação entre si, mas que Tex, Carson e Kit vão conseguir interligar chegando até ao episódio do assassinato de Will Bill Hickok. Uma história rica em acontecimentos, em acção, em elementos históricos, verdadeiramente fascinante, com personagens que fazem parte do imaginário do velho oeste, enriquecedoras de uma aventura épica onde Boselli consegue conjugar na perfeição a história do velho oeste com toda a atmosfera texiana, mantendo sempre latente a tensão e o mistério, apesar da extensão da aventura.

Nota-se que estamos em presença de um projecto ambicioso do autor, com uma grande concentração de factos e personagens, algo que Boselli consegue gerir espantosamente, provando, uma vez mais, ser um autor de enormes recursos narrativos, caracterizando densamente personagens e manipulando factos históricos com uma simplicidade notável.

Mais um excelente trabalho para Alfonso Font. Já o dissemos, o espanhol parece estar talhado a desenhar os melhores argumentos de Boselli. Aqui, uma vez mais, um trabalho de elevada qualidade em qualquer cenário e na composição das personagens. Will Bill está excelente, mister Black inesquecível. Óptimas sequências, como toda a que decorre no teatro, a cena do assassinato de Will Bill Hickok, no hotel, o duelo final no saloon de Deadwood.

Font está no auge das suas possibilidades, domina recursos, domina personagens e ambientes. Um traço sintético aqui, mais elaborado acolá. Menos porco que o de Ortiz, mas um traço que parece ser particular nos autores espanhóis.

Esta aventura vem afirmar Boselli como um autor que agarra em pleno ao personagem de G.L. Bonelli, modelando-o ao sabor do tempo, deste tempo, sem deixar cair o mito. Mas demonstra também um autor que, ao mesmo tempo, actua em redor do protagonista, sublinhando sempre o seu lado mais épico e justiceiro, em detrimento do ranger duro e viril bonelliano.

No final, a verdade dos factos não é desvendada, porque para Tex o mais importante é que os assassinos paguem pelo que cometeram. Já que a História deixa tantas pontas soltas, permitindo assim inúmeras interpretações subjectivas, é bom que, de quando em vez, surja um autor tão dotado como Boselli disposto a dar-nos a sua interpretação para deleite de nós leitores. E realmente o autor tem se mostrado digno de estar ao lado de Nizzi no staff de roteiristas texianos.

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