quarta-feira, 10 de agosto de 2011

NÓS E A EXPLORAÇÃO DE BRASÍLIA


10 de agosto de 2011
Por Christtofer Paiva*

Como já é de conhecimento público o decênio heróico da Revolução Farroupilha é muito presente na alma e nas idéias do Povo Sul-Brasileiro. Nascida em 1835 e se alongando até 1845, a motivação da época tinha o mesmo contexto atual, ou seja, poder altamente centralizado, corrupto e a cobrança de altos impostos nas províncias (cerca de 20%) que não retornavam em benefícios a população Sulista. Tal arrecadação era utilizada por Portugal para pagar suas dívidas ou era investido em outras províncias que davam suporte ao sistema.

De lá para cá muita coisa mudou, porém algumas mudaram para pior. Continuamos vivendo em um modelo mais desigual ainda que o do tempo dos Farrapos, pois agora, segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) e da CNT (Confederação Nacional dos Transportes) estamos pagando cerca de 42% de impostos. E mais grave ainda, os pobres são os que mais pagam impostos segundo o IPEA.

Então pergunto o que mudou de fato, se ainda estamos vivendo um modelo fortemente desigual, continuando a pagar a metrópole, alimentando a desigualdade e a corrupção? Ainda continuamos nos moldes Portugueses, só que aumentou a exploração de cerca de 20% para 42% e mudou o nome da sede da metrópole, que agora se chama Brasília. Este novo poder central mudou de tática e agora aprisiona todas as nações que compõem o Estado Brasileiro. Com o poder político compra pessoas que beiram a linha da miséria, deixando-as dependente de esmolas e sem crescimento justo.

A luta abraçada pelo Movimento O Sul é o Meu País buscando libertar nossa Pátria Sulista é uma luta contra o Estado brasileiro e não contra as pessoas que vivem na América Portuguesa, aliás todas elas exploradas como nós. Não importa de onde elas são ou vieram e sim de povos que amam o lugar onde nasceram.

Cá na Pátria Sulista temos muitas pessoas que vieram de longe e mesmo de dentro do Brasil, mas que amam esta terra como se aqui tivessem nascido. São pessoas que respeitam as diversas culturas dos povos que compõem nossa pátria e que contribuem em muito com nosso desenvolvimento e hoje são parte inseparável de nosso povo.

É importante que tenhamos a consciência de que temos crenças e costumes totalmente diferente do restante do Brasil, mas que respeitamos os demais povos pelo que eles são e pelos que eles construíram neste continente. Em hipótese alguma somos melhores ou piores que povo algum, seja da América Portuguesa seja de qualquer parte do mundo. Sustentamos nossas diferenças no plano da nossa cultura e dos nossos valores materiais e imateriais, retratado na maneira de cultivar nosso gosto e orgulho em ser do Sul-Brasileiro.

Tal orgulho se mostra com mais freqüência quando quase em oração cevamos um mate no fim de tarde ou nos deliciamos numa baita churrasco com a família num domingo ou mesmo, para os mais chegados na cultura campeira, num tiro de laço com os amigos. Priorizamos para nós os bons costumes e os bons gestos, acreditando que a recíproca entre a representação deste “nós” é verdadeira.

Temos muito orgulho de ser hospitaleiros e cordiais não apenas com os nossos, mas com os que vem de fora e aqui se encantam com nossos usos, costumes e tradições. Chegamos ao exagero de dizer que na América Portuguesa não existe povo tão hospitaleiro e de respeito aos outros como nos aqui do Sul. E esta crença é que nos leva a ter práticas cotidianas de amizade e carinho para com os demais seres humanos. Apesar de toda a exploração empreendida pelo Estado brasileiro, que nos ressente e nos deixa magoados pela forma espúria como vem sendo feita, não precisamos e não vamos mudar esse comportamento. A nossa hospitalidade e cordialidade para com todos os povos é nossa marca registrada.

Mas isso ainda precisa sair da retórica para muitas pessoas em nosso próprio meio. Elas tem que lembrar que somos todos irmãos e que devemos aplaudir cada pessoa que luta e trabalha, seja no Paraná, Santa Catarina ou no nosso Rio grande. Mas temos que ir além fronteiras alcançando todos os povos deste mundão maravilhoso.

Sou um produtor rural e particularmente, apesar de já terem me chamado de “Paraneba”, na tentativa de me denegrir, isso não me ofendeu, pois minhas raízes vão muito alem de qualquer ofensa. Melhor que minhas próprias palavras esta citação (que infelizmente não tenho sua autoria) traduz quem sou: "Escolhi a botina porque minha vaidade está abaixo da fome das pessoas. Porque o trabalho árduo não me assusta. Escolhi estar no campo para garantir o conforto dos que moram nos grandes centros. Escolhi aumentar a produtividade, em prol da natureza e da extinção da fome no mundo. Escolhi acima de tudo, a simplicidade, a sabedoria e a resignação do produtor rural".

Trabalho no campo e não sou melhor que ninguém. Luto todos os dias de sol a sol, para pagar altos impostos, meu custo de produção hoje contando com os impostos pagos a sede da metrópole (Brasília) somam mais de 60%, me sobrando apenas um fatia que mal da para reinvestir e criar novos empregos. Por este e por muitos outros motivos já apontados, penso que realmente não é isso que espero deixar para as futuras gerações.

Somos a continuação da história começada à muitos anos e se hoje abraçamos este ideal de um Sul Livre é por que acreditamos na justiça e na paz. Uma justiça que só pode ser verdadeira se ela não declarar inocente o Estado explorador brasileiro e uma paz que só poderá se tornar constante tendo como base o respeito a todos os demais povos e nações do Brasil e do mundo.

*O autor é produtor rural e pecuarista em Palmeira, Paraná.

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