segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Trem Blindado


Com o objetivo de reconquistar as terras que o México perdeu para os Estados Unidos durante a guerra de 1846, o general Contreras recrutou um exército de guerrilheiros que espalha a violência e o terror na zona da fronteira. As incursões por terras americanas serão ainda mais decisivas logo que Contreras receba ouro, armas e munições que se destinam à sua causa. Tudo isto viajará num comboio blindado e bem escoltado, mas Tex e Carson, a pedido do exército americano, vão ultrapassar a fronteira e tentar arruinar os intentos do militar.

O trem, esse elemento aglutinador de distâncias, representativo da evolução do oeste americano, agregador e, ao mesmo tempo, separador entre estados e povos, sempre tão presente em múltiplas aventuras e no imaginário coletivo. Segura escolheu o trem para, não diremos protagonizar uma grande aventura de Tex, mas como seu elemento mais importante, onde tudo gira e sobre o qual recaiem todas as expectativas.

Seguramente que uma certa idéia de nação e patriotismo está na base das ambições do General Contreras, alguém que planeja vingar-se da derrota mexicana com os Estados Unidos e que almeja reconquistar os territórios então perdidos. Existirão aqui duas vertentes históricas no argumento, porque Segura congrega em redor do trem e do seu papel relevante, um elemento verídico que está na origem das motivações de Contreras. Mas se existe no argumento uma visível dependência do trem, essa dependência também se fará sentir no papel que um grupo de homens desempenhará no rumo dos acontecimentos. Inicialmente com Tex, Carson e Butt, mais tarde também com Raul, Tony, Sam e Jerry, o sucesso ou o insucesso da missão dependerá da habilidade de um grupo que Segura vai descrever com mestria.

O grupo conseguirá levar a cabo um ambicioso plano tendente a desviar um trem blindado, porque existe qualquer coisa entre todos os seus elementos que os une a esse objectivo. São motivos diversos, mas que Segura vai expôr convincentemente, caracterizando fraquezas e expectativas.

A habilidade do autor espanhol também se irá reflectir em campo oposto, porque em redor de Contreras, Segura contrapõe o mercenário Von Arnin a Dom Ramon e este a Alvarado. Há um desfilar de uma rica galeria de personagens e psicologias, de carácteres e motivações, cada um movido pelas suas paixões, pelas ambições ou meramente pelos seus intentos.

É eventualmente nesta composição mesclada que Segura se afasta dos cânones bonellianos e de Nizzi, aproximando-se mais de Boselli. Segura conjuga bem as características das personagens, através de uma história realista, credível e apaixonante. É interessante seguir Tex no processo de conhecimento do terreno, da sua preparação e no engendrar de algo que possa acabar com os intentos de Contreras. É interessante a caracterização que Segura expõe muito bem entre o estudo e planeamento e a passagem a uma acção plena e decisiva.

Segura respeita a personagem, porque o seu Tex é decisivo e heróico, mas o seu Tex não é o de Bonelli. Porque o Tex bonelliano recorreria a Carson, Kit e Tigre e não a um grupo de personagens movidas por diferentes objectivos e onde se inclui, por exemplo, um antigo fora-da-lei. Terá sido opção pessoal ou meramente não ter um conhecimento profundo da personagem?

A aventura é enérgica e nervosa, sentindo-se sempre algo nebuloso no ar. Algo que permanece sempre por explicar, qualquer coisa que nos foge e que o autor pretende guardar sempre para o momento seguinte. E o momento seguinte acaba por ser o momento final, quando Segura constrói um epílogo pouco aguardado, mas eventualmente também pouco credível e ingênuo, pelo menos no modo como Tex acaba quase por ser surpreendido.

Ortiz compõe um Tex marcadamente ticciano, vigoroso e seguro de si. Mesmo a composição das personagens denota essa tendência para acompanhar os cânones ticcianos, com personagens maniqueístas carregadas de expressões reveladoras das suas condutas. O autor usa e abusa dos efeitos de luz e sombra, sublinhado nos cenários e nos ambientes, de uma forma ímpar nos desenhadores texianos. Apesar de perpassar uma leve sensação de falta de definição nos traços de algumas personagens, a verdade é que o autor espanhol consegue, mesmo assim, uma grande realeza e transmitir bem ao leitor as incidências da aventura. Mas o formato mais reduzido tende a deixar no leitor uma certa sensação de asfixia decorrente desta tendência em abusar da cor negra.

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