quinta-feira, 14 de abril de 2011

Souza Neto


Souza Neto

Vultuoso cepo farrapo
Que se adonou do comando
Foi se impondo, peleando
Guerrilha atrás de guerrilha
Um cerne de curunilha
De espada firme na mão
Peleando por devoção
Ao ideal farroupilha

Tão distinto militar
De calorosas contendas
O maior dentre as legendas
De nosso pago cuiúdo
Fostes índio macanudo
Nos conflitos de fronteira
Quando a pátria brasileira
Teve guarda em seu escudo

Veterano de tantas guerras
De tantas guerras - veterano
Um tigre republicano
Vivendo fora do tempo
Gaúcho sem regimento
Que repontou com bravura
Era contra a escravatura
E eram contra seu intento

Não traiu, nem desertou
Nem negou ser brasileiro
E no calor do entreveiro
Foi legenda - expoente
Foi centauro, foi valente
Pelas campanhas do Prata
Consolidando a casamata
Do Brasil, independente

E nas peleias mais brutas
Não se viu mais aguerrido
Peleando contra o inimigo
Na serra, pampa e fronteira
Empunhando firme a bandeira
Da velha pátria gaúcha
E na outra mão a garrucha
Pela banda missioneira

O que seria dos farrapos
Se não foste esta legenda
Na imorredoura contenda
Das planuras do Seival?
Quando a horda imperial
Muito bem mais municiada
Tombou feia, derrotada
Num setembro imortal

Lanceiros negros - falange
Crioula guasca munícia
Da farroupilha milícia
Do marechal campejano
Peleando quase dez anos
Resistindo, mesmo em trapos
Frente às forças dos farrapos
Como sempre, soberano

E na paz de Ponche Verde
Demonstrou ser valoroso
Discordou do vergonhoso
Acordo à precariedade
A paz, vil inverdade
Por interesse de poucos
Deixava reféns os potros
Que lutaram por liberdade

Foi o único índio guapo
A discordar do armistício
Recusando o benefício
Que Caxias concedeu
Mesmo à morte, não cedeu
Segurando firme a espada
Que empunhou, sem cobrar nada
Defendendo o pago seu

Foram anos e mais anos
Defendendo a pátria sua
O Brasil, a terra nua
E o Rio Grande de São Pedro
Sem nunca perder o enredo
Pelos campos de combate
Levando de arremate
Entreveiros de dar medo

Quantas vezes este pago
Viu de perto Souza Netto
Peleando no dialeto
Da guasca estirpe guerreira
Em Tuiutí, a Brigada Ligeira
E nas campanhas do Prata
E na própria epopéia Farrapa
Ou guardando pátria e fronteira

Depois de tantas campanhas
Depois de brutas batalhas
Depois de tantas mortalhas
Que escapou, mesmo à frente
Este centauro imponente
De um jeito inesperado
Foi tombar longe do pago
Na Província de Corrientes

Este sim foi um bagual
Que nasceu pra ser liberto
Vivendo de peito aberto
Sem nunca ostentar luxo
Guentando firme o repuxo
Nas peleias mais renhidas
Perigando a própria vida
Pra não deixar de ser gaúcho

Velha nação campejana
De tanta indiada imponente
Não venere tanta gente
Que herói, se diz, se chama
A história é um mar de lama
Se contada pelos outros
Que só domaram bravos potros
Em seus causos e proclamas

Autor: Paulo Sérgio Boita

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