segunda-feira, 13 de junho de 2011

EXECUÇÃO DO “HINO NACIONAL” RIOGRANDENSE NA REDE GLOBO

Celso Deucher*

Na tarde de domingo (dia 12 de junho), sem praticamente nada para assistir na TV e cansado de ler, resolvi dar uma olhada no futebol, atividade que não dou a menor importância, por não torcer para time algum. Para minha surpresa liguei a televisão bem na hora em que estava iniciando o jogo entre Internacional e Palmeiras e o Felipão (Luiz Felipe Scolari, Sulista-gaúcho, nascido em Passo Fundo) e o Falcão (Paulo Roberto Falcão, Sulista-catarinense nascido em Abelardo Luz) se abraçavam antes de iniciar o embate. Fiquei feliz em ver dois grandes Sulistas no comando de dois (não menos grandes) clubes de futebol da América Portuguesa.

Segundos depois inicia o hino do Brasil e ao final, os autofalantes do Estádio Beira Rio emendam o hino do Rio Grande do Sul. Para minha surpresa o comentarista da Rede Globo, Cleber Machado, anuncia com todas as palavras: “Agora os colorados estão cantando o HINO NACIONAL DO RIO GRANDE DO SUL”. Me dei conta na hora e pensei, alguém vai puxar a orelha dele e logo virá uma “reformada” na declaração.

Mas que nada, não deu dois minutos e lá veio o Cleber mais uma vez reafirmar o que tinha dito antes: “Bom, após a execução do HINO NACIONAL DO ESTADO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, vai ser iniciada a partida”. Ora bolas, pensei comigo, entonces, está ai para quem quiser ver e ouvir: O RIO GRANDE É UM PAÍS...

Me parece óbvio que afirmações como esta saem espontaneamente e a pouco falando com o presidente do Movimento RS Livre, Matheus Duarte, ele me reafirmava: “Sai sem querer... é forte mesmo”. Citou inclusive uma entrevista com outro “Global”, Zéca Camargo, apresentador do programa Fantástico, onde aconteceu a mesma coisa. “Tem um vídeo do Zeca Camargo, se não me engano, numa entrevista a um jornal daqui, que ele sem querer fala ´no país de vocês´ e logo em seguida `conserta´ e dá risada”, diz Duarte.

Mas estes dois não seriam os únicos globais a admitir um Rio Grande separado do Brasil. Segundo informações postadas na internet (e é sempre bom tomar certo cuidado com elas), o apresentador Fausto Silva teria feito declarações claras de que o Estado já deveria ser um país. “Acho que o Rio Grande do Sul tinha mesmo era que se separar do Brasil, falando sério. Vocês têm aqui um nível de educação superior, além de uma série de outras coisas. O gaúcho tem uma qualidade que falta ao Brasil, ele sabe se posicionar, toma partido, tem um talento nato pra isso. No resto do país é todo mundo em cima do muro, o que é péssimo em todos os sentidos. Falando como paulista, garanto: a maioria dos brasileiros tem inveja dos gaúchos”. (Trechos da palestra de Fausto Silva – Faustão – que teriam sido proferidas no dia 07 de novembro de 2007, na Semana da Comunicação em Porto Alegre).

Independentemente de qual brasileiro disse isto ou aquilo sobre o Rio Grande, a verdade é que trata-se de uma marca registrada deste estado em relação as demais Colônias da América Portuguesa.

O hino Riograndense resume o desejo de autoafirmação daquele povo em relação ao estado brasileiro. Cada vez que gaúchos riograndenses camtam seu hino, o fazem não apenas para lembrar os feitos dos seus (e nossos) heróis Sulistas, mas principalmente para relembrar a todo pulmão que “não basta prá ser livre, ser forte, aguerrido e bravo, pois povo que não tem virtude, acaba por ser escravo”.

Trata-se de um hino contagiante que já ultrapassou as fronteiras do Rio Grande e hoje mora nos corações de boa parte dos Sulistas do Paraná e Santa Catarina. Eu mesmo, não tenho vergonha de dizer que sei cantar “de cabo a rabo” o hino da República Riograndense e não consegui gravar mais do que duas estrofes e o refrão do hino de Santa Catarina.

Da mesma forma o estudante catarinense Lucas Brook concorda que os brasileiros ficam de boca aberta quando vêem os riograndenses cantando o seu hino. “Sim ficam mesmo e não é atoa que eu sei cantar o hino Riograndense e não sei o de Santa Catarina”, afirma.

Um pouco da história do hino Riograndense

Com letra de Francisco Pinto da Fontoura, musicado por Joaquim José Mendanha e harmonizado por mais um dos heróis da Revolução Farroupilha, Antônio Corte Real, o hino do Rio Grande do Sul é praticamente o mesmo da República Farrapa que por mais de 10 anos manteve em pé o sonho Sulista de tornar-se um País independente. Uma revolução que atingiu inclusive Santa Catarina, com a República Juliana, e sabe-se hoje, segundo pesquisas do historiador do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, Carlos Zatti, que também contou com paranaenses em suas fileiras.

Segundo dados que colhemos no site oficial do MTG-RS (Movimento Tradicionalista Gaúcho do Rio Grande do Sul -http://www.mtg.org.br/hino.html), o hino Riograndense tem passado por muitas mudanças desde a sua criação. “Oficialmente existe o registro de três letras para o hino, desde os tempos do Decênio Heróico até aos nossos dias. Num espaço de tempo de quase um século foram utilizadas três letras diferentes até que finalmente foi resolvido, por uma comissão abalizada, que somente um deles deveria figurar como hino oficial”, afirma o MTG.

Ainda segundo esta entidade, uma das maiores e mais respeitadas do Rio Grande, a história real do hino, começa com a tomada da então Vila de Rio Pardo, pelas forças revolucionárias Farroupilhas. Nesta peleia um batalhão do Brasil foi aprisionado e junto a ele estava a banda de música e seu maestro, um mineiro chamado Joaquim José de Mendanha, um grande compositor, famoso na época por toda a América Portuguesa. “Após a sua prisão ele, Mendanha, teria sido convencido a compor uma peça musical que homenageasse a vitória das forças farroupilhas, ou seja a brilhante vitória de 30 de abril de 1838, no célebre combate de Rio Pardo”, informa o MTG.

“Convencido” pelos Farrapos, Mendanha fez a primeira melodia, que alguns chegaram a afirmar que se tratava de um plágio de uma valsa de Strauss. Para tentar “salvar a pátria”, segundo a historiografia da época, o capitão Farrapo Serafim José de Alencastre, músico e poeta resolveu escrever uma poesia musicada para “colocar na música” em comemoração ao feito libertário em Rio Pardo.

Mas este primeiro hino não teria ido longe. Quando a revolução já se expandia para Santa Catarina, em 1839, um novo hino seria composto e desta vez, seria cantado como “Hino da Nação”. Segundo ainda as anotações do MTG-RS, foi composta apenas uma nova letra, dando a entender que a melodia continuava a mesma. “O autor deste hino é desconhecido, oficialmente ele é dado como criação de autor ignorado. O jornal “O Povo”, considerado o jornal da República Riograndense em sua edição de 4 de maio de 1839 chamou-o de o Hino da Nação”.

Uma terceira versão do hino seria conhecida somente após a assinatura do “Tratado de Ponche Verde” onde a República Riograndense, na condição de Estado soberano, e o Império do Brasil, assinaram o fim das hostilidades e consequentemente a “interrupção temporária da República Farropilha”. Esta versão, tornou-se popular graças ao seu autor, Francisco Pinto da Fontoura, que promoveu uma verdadeira cruzada para tornar o hino conhecido entre todos os seus compatriotas.

Porém, uma outra mudança ainda ocorreria no decorrer do tempo e ela aconteceu na década de 1930, quando o estado se preparava para comemorar os 100 anos da grande Revolução. Uma comissão composta pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande, juntamente com outras entidades estatais analisaram as letras resolveram oficializar uma delas em 1934. Esta continha três estrofes e o estrebilho.

Por fim, no ano de 1966, houve a oficialização definitiva do Hino Riograndense pela lei 5.213 de 05 de janeiro, quando foi suprimida a segunda estrofe: “Entre nós reviva Atenas/ Para assombro dos tiranos;/ Sejamos gregos na Glória, / E na virtude, romanos”.

Para aqueles que não conhecem o belo hino deste estado irmão, segue abaixo a letra completa usada hoje e o link, para quem quiser ouvi-la:

HINO RIO-GRANDENSE

Letra: Francisco Pinto da Fontoura
Música: Joaquim José de Mendanha

Como a aurora precursora
do farol da divindade,
foi o vinte de setembro
o precursor da liberdade.

(Estribilho)
Mostremos valor, constância
nesta ímpia e injusta guerra;
sirvam nossas façanhas
de modelo a toda a terra.

Mas não basta prá ser livre
ser forte, aguerrido e bravo;
povo que não tem virtude,
acaba por ser escravo.

Escute o hino:
http://www.youtube.com/watch?v=gOOUmamk6Bk&feature=related

*O autor é presidente do Movimento O Sul é o Meu País e Secretário Geral do Gesul (Grupo de Estudos Sul Livre).

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